Rachel Anne, "influencer" norte-americana: "Nasci no Texas e acho que a Galiza tem a melhor qualidade de vida do mundo"
VEN A GALICIA
Veio para passar um ano e já se passaram seis. Agora, partilha a sua experiência como norte-americana fora do seu país. Diz que não tem "haters" e continua a apostar no YouTube, onde os seus vídeos conquistam mais de 170.000 subscritores
27 nov 2024 . Actualizado a las 16:02 h.O seu marcado sotaque americano contrasta ao longo de toda a conversa com a fluidez com que fala espanhol. E é isso que também transmite através do seu conteúdo. Rachel Anne (Texas, 1996) mostra através da sua câmara como vê Espanha em geral e a Galiza em particular, com o seu olhar norte-americano. Um olhar que não cresceu a ver o Xabarín enquanto fazia o lanche, mas para o qual coisas tão típicas daqui, como o polvo no supermercado, parecem novas e surpreendentes. Ela partilha essa visão no Instagram, TikTok e, sobretudo, no YouTube, onde já reúne 170.000 subscritores.
Mas como é que uma norte-americana acaba a fazer vídeos sobre a tortilha de Betanzos ou as hortênsias galegas? Esta é uma história com vários capítulos, e o primeiro decorre no sul de Espanha. Depois de um mês a viver em Granada enquanto estudava, Rachel tinha claro que queria conhecer melhor o país. Por isso, assim que terminou a universidade, em 2018, veio para trabalhar como assistente de conversação numa escola. A sua ideia era ficar um ano — “que na altura me parecia imenso tempo”, sublinha —, mas o plano rapidamente mudou e já leva seis anos fora do Texas.
O seu amor por Espanha foi uma das motivações para ficar, mas não a única. Pelo caminho, conheceu um galego que a ajudou a tomar a decisão. A família do seu parceiro vive na Galiza, e foi aí que Rachel passou a pandemia: «Desde a primeira vez que fui, apaixonei-me pelas terras galegas, mas foi no confinamento que fortalecemos a nossa relação», brinca. «Agora também tenho amigas lá e é como a minha segunda casa. Embora quem me dera que fosse a primeira!», acrescenta.
Visita a Galiza, em média, uma vez por mês, pois vive em Madrid: «Infelizmente!», brinca, porque o seu sonho, diz, é mudar-se um dia: «No futuro, vejo-me a viver lá a 100%. Por isso, um dos meus passatempos é entrar em sites imobiliários e procurar apartamentos e casas», conta. Por que a Galiza? «Acho que tem a melhor qualidade de vida do mundo», afirma. «Lá entra tudo: as tradições, a comida, as paisagens, o estilo de vida... A expressão Galiza qualidade não é em vão».
Lugo é o seu lugar pendente de visitar — «os galegos vão-me matar!», exclama —; Corunha, Costa da Morte e as Rías Baixas ocupam os três primeiros lugares dos seus sítios preferidos, embora em relação à comida tenha a escolha mais clara: opta pelas vieiras mal acaba a pergunta. E quanto à festa? Também tem uma opinião definida: a sua parte favorita são os festivais, mas não os de música: «Os festivais de comida são os melhores do mundo, a minha tradição favorita: os de vinho, queijo, marisco...», enumera.
As redes como trabalho
Começou a trabalhar como professora de inglês, mas agora Rachel dedica-se exclusivamente às redes sociais. Nelas, partilha a sua experiência de viver como americana em Espanha e as suas viagens pelo mundo. Embora também esteja no TikTok e Instagram, mantém-se fiel ao YouTube, uma das primeiras plataformas.
Acredita que encontrou o seu «propósito» na vida, e o objetivo final dos seus vídeos ela mesma explica: «A intenção do meu conteúdo é mostrar aos espanhóis e estrangeiros o quão incrível é Espanha. Há aqui coisas que não existem em todo o mundo», conta.
«Eu não tenho haters e não recebo ódio nas redes sociais»
E a receção do seu conteúdo, diz, superou todas as suas expectativas: «Eu não tenho haters, as pessoas são muito simpáticas comigo e não recebo ódio nas redes sociais», sentencia. Ela própria reconhece que isso não é nada comum entre os perfis públicos: «É curioso e muito especial. Estou muito agradecida, porque não sei se lidaria bem com isso», confessa. Ela atribui essa particularidade a dois fatores. Por um lado, o tipo de conteúdo: «Acredito que se passas uma mensagem positiva, é mais fácil receber o mesmo de volta», argumenta. Por outro, a plataforma que escolheu: «O YouTube é a minha plataforma principal, e acho que lá as pessoas te conhecem e valorizam mais». «As pessoas que veem os teus vídeos no YouTube assistem durante 20 ou 30 minutos. Acredito que assim seja mais difícil receber hate do que, por exemplo, no TikTok, onde te veem por 10 segundos», acrescenta.
Um dos seus vídeos mais populares consiste em percorrer o supermercado espanhol, explicando o que lhe parece chamativo como americana. Neste aspeto, na Galiza há algo que a deixou boquiaberta: «Eu nunca tinha visto um polvo na vida até ir à Galiza, e quando o vi no supermercado, fiquei espantada», conta. Mas não foi só isso: «Também me surpreendeu a quantidade de conservas, queijos e vinhos que há. Isso nos Estados Unidos é impensável».
Mas os supermercados não foram a única coisa que a chocou quando chegou à Galiza. A primeira coisa que lhe chamou a atenção, diz, foram as paisagens: «Quando o meu namorado me mostrou essa zona pela primeira vez, não entendia como podia ser tão verde e tão bonita», recorda. Embora a chuva não a convença totalmente — «teria que me habituar!», salienta —, a temperatura da água do mar também a surpreendeu, mas de forma positiva: «Adoro as praias galegas. Têm águas cristalinas e as pessoas queixam-se de que são muito frias, mas a mim parece-me incrível, acho que é uma sensação que te dá vida», defende Rachel.
Outra das coisas que lhe chamou a atenção, embora não aconteça só na Galiza, é a questão dos horários das refeições. Um choque cultural que os seus pais experimentaram há poucas semanas: «Vieram visitar-me no fim do verão e, uma vez, jantámos com os tios do meu namorado às onze da noite, os meus pais ficaram espantados! Pareceu-lhes estranhíssimo», comenta.
O que ela tem claro é que todas essas diferenças também a mudaram, e afirma que já não é a mesma que saiu do Texas com a mala para passar um ano fora: «Vir para cá mudou-me completamente como pessoa», insiste. «Antes tinha outros objetivos, que passavam por trabalhar numa grande empresa ou ganhar muito dinheiro. Agora vejo a vida de forma muito diferente, quero viver no presente e desfrutar das pessoas, de viajar e conhecer. Acho que em Espanha se pensa mais dessa forma», explica.
E, como não podia deixar de ser, a entrevista termina da mesma forma que todos os seus vídeos: com um efusivo «talogo!».