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Oito restaurantes a não perder se vier à Galiza

C. M. / TRASLATION: MARCOS RANDULFE

VEN A GALICIA

GONZALO BARRAL

Se já lá está ou se vem à Galiza, existem templos gastronómicos que não pode perder. Estes são alguns dos mais recomendados

21 sep 2023 . Actualizado a las 17:40 h.

Além da sua cultura, das suas paisagens, da sua história e das suas tradições, a Galiza tem na gastronomia um dos seus principais interesses turísticos. Nos planos de toda pessoa que visita a nossa região está o desfrutar da sua excelente culinária. Um mimo que também se dá quem cá reside. As propostas são infinitas. Como infinitas são as possibilidades que oferecem as nossas matérias-primas, a nossa sabedoria aos fogões e a nossa vasta tradição culinária. Cozinha de mar, de serra, tradicional, de vanguarda, peixe, marisco, carne... Sempre com um denominador comum: o máximo respeito pelo produto. Eis aqui oito propostas, das mais diversas, de norte a sul e de leste a oeste, que não deveria deixar passar se por cá passar. 

A PULPEIRA DE MELIDE. A Corunha

A praça de Espanha apresenta uma animação constante, em boa medida propiciada pela presença e a atividade de um dos locais mais procurados e conceituados da cidade.

A proposta da Pulpeira de Melide é entendida hoje como a versão moderna do negócio familiar onde se combina o tradicional restaurante de polvo e uma cozinha de tipo atual. E não é por acaso. À frente do restaurante encontra-se Gorka Rodríguez, quarta geração de "pulpeiros", mas também formado academicamente em alguns dos melhores restaurantes do mundo como o Mugaritz, o Celler de Can Roca ou o Noma.

Por isso, embora o polvo seja o prato identitário do restaurante e o mais pedido, não convém perder de vista o resto da ementa, baseada no produto de mercado.

Com sublimes propostas como a gilda de vieira e anchova, a empada de xouba (petinga), as croquetes de pernil ou as de choco com tinta ou o carpaccio de vitela rubia gallega.

Destaca-se também a secção do marisco e peixe, na qual encontraremos como sugestões as ameijoas de Carril na frigideira, os mexilhões de Lorbe em escabeche, o rocaz em tempura, o tártaro de bonito ou a cavala marinada na casa.

De referir especialmente também a tortilha estilo Betanzos, o segundo prato mais solicitado a seguir ao polvo, e a tarte de queijo no forno.

RESTAURANTE SAN FRANCISCO. Malpica

A sala envidraçada do San Francisco espelha toda a majestosidade do Atlântico. E, de alguma forma, o mesmo acontece com a sua cozinha. De facto, encontrando-se onde se encontra, o restaurante não podia ter melhor despensa. O mar bate nas suas janelas nos dias de mau tempo e também inunda a sua ementa.

O San Francisco divide a sua oferta em duas zonas claramente diferenciadas. Uma para o restaurante e outra para petiscar. Embora no fundo a essência das suas duas propostas partam da mesma raiz: a cozinha tradicional e o produto de qualidade. A matéria-prima, seja ela de peixe ou marisco, provém da lota local e sempre da pesca artesanal.

O San Francisco orgulha-se com razão de ter percebes das melhores falésias das ilhas Sisargas, Nariga, Corme ou Camelle. Nem mais.

Quanto ao peixe, as elaborações mais recomendadas são preparadas numa espetacular caldeirada, na chapa ou no forno (neste caso, por encomenda). Não ficam atrás em intensidade e sabor pratos como a caldeirada de polvo, as favas com polvo e ameijoas ou as lulas na sua tinta, cuja receita familiar se transmitiu de geração em geração.

A lista de petiscos mantém um carácter marinheiro e a essência da cozinha caseira galega. Entre as tapas e doses mais procuradas, as tortilhas variadas e as croquetes. Sublimes as de lulas.

O DEZASEIS. Santiago

Na popular rua San Pedro -no número 16, como era de esperar- situa-se este restaurante que em relativamente poucos anos -abriu em 1995- alcançou a categoria dos clássicos da cidade.

E conseguiu fazê-lo baseando-se numa proposta de sabores e saberes tradicionais e numa escolha de produto de proximidade. Como indica o seu gerente, Gonzalo Abal, "que ninguém procure no Dezaseis alardes nem elaborações estranhas". O qual não impede que a criatividade e um certo espírito inovador sejam visíveis em certos pratos da sua ementa.

O sabor tradicional é notável no Dezaseis desde o momento em que se pisa o primeiro dos degraus de pedra que levam para o interior do restaurante. A decoração sóbria, mas elegante, na qual prima a madeira e o granito, propicia um ambiente verdadeiramente acolhedor nas suas três salas de jantar, uma delas num terraço coberto.

Quanto à oferta gastronómica, quem for ao Dezaseis não deverá deixar de provar o polvo na grelha, o prato estrela da casa. Também elaboram na grelha um soberbo queijo San Simón cristalizado. Outros dos pratos a ter muito em conta são os mexilhões em escabeche de cítricos ou a tradicional -e neste caso sublime em delicadeza e frescura- pescada à galega.

CASA ROSITA. Cambados

No coração das Rias Baixas e capital do alvarinho, esta casa é um monumento culinário há século e meio. À frente do negócio encontra-se a quinta geração. E embora a Casa Rosita tenha mudado de localização, ampliou as suas instalações, adaptando-a aos tempos, os fundamentos da sua cozinha permaneceram intactos. Em poucos lugares o valor da tradição se manifesta de forma tão clara e atual como neste restaurante de Cambados. E fá-lo com uma cozinha que respeita os fundamentos da sabedoria culinária da zona, com o marisco e o peixe da ria como pedra angular.

O prato estrela da casa é a salada de marisco. "Em cada dez comensais, nove pedem-nos salada de marisco", dizem. Onde está o segredo? "O principal ingrediente é a paciência. Todo o marisco da salada (sapateira, navalheiras, camarão...) é comprado, cozido e descascado no próprio dia", explicam. Duas ou três mulheres dedicam boa parte da manhã a essa tarefa.

O comensal não deverá em caso algum descuidar o resto da oferta de marisco e peixe. O tamboril na chapa com ligeiro toque à marinheira é uma dessas delícias culinárias que por si só justificam uma visita à Casa Rosita. O pregado, o linguado, o robalo ou a pescada da espetada também não ficam atrás. Chegada a hora das sobremesas, as filloas (crepes), o crocante de amêndoa com morangos ou o creme de mascarpone têm quase tanta reputação como a salada de marisco.

A FONDA DO SOPAPO. Vigo

Em junho de 2020, no momento mais severo da pandemia, César Fernández e Rubén Álvarez abriram este negócio. Não foi, obviamente, um começo fácil, mas a qualidade, a singularidade e a honestidade da proposta do Sopapo conseguiram que fosse avante e ganhasse fama até se tornar uma referência inquestionável no centro histórico de Vigo.

O conceito do Sopapo herda o daquelas tascas ou casas de comidas de antigamente. "Cozinha tradicional. Não tanto de mercado, mas sim caseira", explicam. "Sem complicações nem grande algazarra. Simplesmente com um pouco de jeito".

Ninguém se sentirá enganado após descobrir a proposta gastronómica do Sopapo. O que há é aquilo que se vê, e o que se vê é aquilo que se come. Um valor que cresce e é cada vez mais procurado pela clientela.

A ementa do Sopapo baseia-se principalmente no peixe. Sempre -insistem, "sempre"-, peixe do dia e proveniente da frota costeira. "Aqui não entra nada que venha do Grande Sol", comentam. E podem assim oferecer-lhe sargo, tamboril ou carapau, que é o que mais tem chegado estes dias. O arroz de carne de costela é outro dos pratos estrelas do local da praza da Pedra. Como também o são o escabeche de chinchos (chicharro pequeno) e as carnes de Bandeira. O facto da despesa média se situar entre 20 e 25 euros por pessoa (bebida incluída) é outro motivo a seu favor, a ter muito em conta.

A TABERNA. Ourense

A cozinha de mar não é exclusividade das localidades portuárias. Também tem os seus templos no interior. E A Taberna, em Ourense, é um dos mais destacados. Javier Outomuro está há 20 anos à frente do restaurante situado na rua Julio Prieto Nespereira, e no qual o peixe foi sempre o protagonista. "80% da nossa clientela vem aqui para comer peixe", comenta. Ao forno, com crosta de sal ou escalado, mas sempre com a mesma condição. "Todos são selvagens. Não trabalhamos com nada de aquicultura", frisa.

Javier Outomuro define a oferta culinária da Taberna como "cozinha tradicional de produto atualizada". Nela, o que prima é a matéria-prima, nem mais. "Manuseamo-la o menos possível", acrescenta.

Como fiel amostra dessa cozinha, para além do já referido peixe, oferecem-se pratos como o tamboril com camarão - "anda comigo há 35 nos, mas não o consigo tirar da ementa", conta Outomuro-, os nacos de salmão, os arrozes, com lagosta ou "a banda", ou o cabrito.

A Taberna também propõe um menu degustação de sete pratos -os mais vendidos da sua ementa- a um preço de 44 euros, bebidas à parte.

PULPERÍA A LAREIRA. Lugo

A gastronomia de Lugo tem no polvo o seu prato emblemático, que lhe confere fama e até simboliza as suas festas. E se falarmos de restaurantes de polvo, uma das suas principais referências é A Lareira, situada em A Milagrosa. O negócio está aberto há mais de quatro décadas, embora os seus atuais donos, Marina Fraga e Teresa Díaz, tenham ficado com ele em 2014, quando os anteriores proprietários se reformaram. Elas trabalhavam nessa altura como empregadas do estabelecimento e após terem ficado com ele, asseguraram-se de manter o espírito tradicional com o qual foi criado.

A Lareira oferece o polvo "á feira" ou com cachelos (batata cozida). Mas não é, nem de longe, a única proposta tentadora da casa. Entre os pratos favoritos da clientela estão também os callos (tripas). Também não ficam atrás o caldo galego -esse grande ausente em muitas das nossas casas de comidas-, a falda (maçã do peito) à maragata, o pernil com grelos, a pota ou as lulas.

Tudo isso elaborado e apresentado ao mais puro estilo tradicional, pondo em prática a sabedoria ao fogão, própria da nossa tradição culinária.

Além disso têm diárias e uma tentadora oferta de sobremesas caseiras.

EL TIMÓN BAR. Ferrol

É provável que, neste momento, a gastronomia de Ferrol seja a grande desconhecida da Galiza. São muitos os restaurantes da cidade que estão a apresentar propostas de excelente qualidade, quer pela sua criatividade ou pelo seu honroso apego à tradição. É o caso, por exemplo, do El Timón, o local situado na rua A Coruña e gerido por José María Jordán, firme defensor da "cozinha artesanal". O conceito da sua proposta, explica, é o de bar. "Não somos um restaurante. Embora sejamos sérios, somos pessoas que gostam da informalidade e da espontaneidade no que diz respeito à comida".

A cozinha "otimista" do El Timón baseia-se em dar uma muito interessante volta ao produto local. Tomando como referência o mercado de abastecimento de Ferrol, El Timón apresenta toques suteis vanguardistas como também, e isto é importante, para todas as carteiras.

Propõe assim, escrita a giz num quadro, dentro ou fora da sua ementa, opções tão tentadoras e originais como o pregado com óleo de beterraba, o steak tartare com maçã, a costeleta de vitela com compota de damascos secos, o salmão marinado ou o arroz basmati com wok de legumes e caril.